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Ginástica como escola de emoções

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A ginástica é um desporto muito completo, por isso quando os pais optam por colocar os seus filhos a praticar esta modalidade, estão a fazer um investimento não só na aprendizagem de hábitos de vida saudáveis e nas suas competências motoras, mas também no seu desenvolvimento emocional, pessoal e social.

É sobre os aspetos emocionais que vamos refletir um pouco. Na minha perspetiva de antiga ginasta e agora de treinadora, senti por mais do que uma vez que as aprendizagens que fiz no treino e nas competições me foram úteis na minha vida pessoal. Por exemplo, sinto que enquanto estudante estava mais preparada, do que a maioria dos meus colegas, para enfrentar situações como apresentações orais, não é que estas não fossem stressantes na mesma, o que acontecia é que eu estava habituada a gerir os meus níveis de ansiedade perante uma situação de exposição e de avaliação.

O exemplo apresentado pode ser dos mais diretos, mas há outros, o processo de aprendizagem na ginástica está repleto deles e quando bem direcionado pode ser uma mala de ferramentas para a vida.

Um atleta vai para o treino e está cansado, teve um dia difícil com um horário muito exigente na escola, em algumas situações sabe que seria mais fácil simplesmente descansar e deixar para amanhã as tarefas que tinha para realizar hoje, mas este ginasta sabe que tem objetivos e que precisa de trabalhar para eles se pretende alcançá-los, por isso vai para o treino e com maiores ou menores limitações aprende e continua a caminhar na sua preparação. Na sua mala de ferramentas coloca a superação, o compromisso e a capacidade de saber que apesar de tudo consegue sempre mais e melhor. No final do treino o atleta sente-se bem e realizado.

A aprendizagem de um exercício específico para as suas competições, ou apresentações, ou apenas de algo que o atleta estabeleceu para si que queria muito aprender tornou-se um desafio que se prolonga por mais do que um treino e que leva o atleta a passar muito tempo no processo de tentativa e erro, com as correções do seu treinador a terem que ser bastante analisadas para a compreensão do movimento que está a tentar realizar. Quando conquista esta aprendizagem e a pode apresentar a sensação de vitória é única. O ginasta juntou à sua mala a persistência, a resiliência, a capacidade de lidar com a frustração, a confiança e um aspeto muito interessante, aproveitar todos os pequenos sucessos durante o processo.

Um ginasta mais crescido vê um colega mais novo com alguma dificuldade a aprender a realizar um elemento no treino e dirigindo-se a ele ajuda-o a persistir na sua tarefa e a melhor compreender o que e como está a realizar o exercício. No fim, o sucesso é atingido e se o primeiro coloca na sua mala de ferramentas a empatia, a confiança de que é importante na vida do outro e que pode fazer a diferença com pequenos gestos e um sentimento bastante positivo de tarefa bem feita. O segundo, o mais novo, desenvolve a consciência de que está num espaço seguro para aprender, que tem uma estrutura humana para o apoiar, que é capaz de fazer mais e melhor e que tem um exemplo a seguir no mais velho.

Nos meus anos como treinadora vi ginastas mais novas a tornarem-se as mais velhas no treino e como pequenos gestos de empatia, de preocupação e de bondade foram replicados por elas ao encararem as gerações seguintes, num ciclo impressionante de se tornarem responsáveis pelos outros, de se tornarem adultas. Adultas com uma mala de ferramentas que as torna mais completas, mas também mais preocupadas com quem as rodeia e, como fui escrevendo ao longo do texto, a saberem que podem sempre fazer mais e melhor no caminho para os objetivos que estabelecem para si próprias.